segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O único fruto do amor.




A banana, conhecida por ser a fruta do homem pobre, não só devido a motivos economicos mas também pelo seu valor nutricional, sabor e fácil acesso todo o ano. Mas nem sempre foi assim, a banana mudou muito ao longo dos tempos e apesar de muitos de nós o desconhecer, há uma história e factos interessantes que vale a pena descobrir.



Oriunda do sudeste de Ásia, os registos mais antigos da banana são datados em 600 A.C, por esta altura já se encontrava pela Malásia, China e principalmente Índia. É dito que Alexandre o Grande encontrou este fruto pela primeira vez em 327 A.C. e trouxe consigo para o ocidente. Mas a banana nestes tempos era muito diferente daquela que conhecemos hoje em dia, na sua forma, cor e sabor, e por isso não era tão popular mas mesmo assim gradualmente foi-se espalhando pelos continentes em redor.



No século 15 os portugueses encontraram a banana no oeste de africa, e são reconhecidos por introduzir o fruto as Caraíbas, ilhas Canárias e ao continente Americano, o que por sua vez ajudou ainda mais a espalhar o fruto e torna-lo cada vez mais popular.



Em 1870 foi quando o verdadeiro potencial económico da banana foi explorado, por um grupo de americanos e europeus, tornando-se tão popular que actualmente é o 4º produto agricultural mais vendido no mundo, a seguir a trigo, arroz e milho. Globalmente o maior produtor de banana é a Índia, mas é no Uganda onde o consumo é maior, onde em média uma pessoa consume 230kg de banana por ano. O fruto é tão popular em Uganda que a palavra matooke, pode significar “comida” ou “banana”. Mais de 100 mil milhões de bananas são consumidas anualmente.

Bananas vermelhas da Austrália



Bananeiras são o nome que damos às árvores onde crescem as bananas, mas é um erro, as bananas não crescem em árvores, mas sim em plantas herbáceas, as maiores que existem. Actualmente existem mais de 1000 exemplares de bananas pelo mundo fora, de vários tamanhos, cores como amarelo, verde ou vermelho, algumas com grandes sementes no interior mas a maioria intragáveis e sem grande sabor. Esta informação não coincide com a ideia clássica que uma pessoa tem de uma banana, madura, amarela, doce e sem sementes. Mas isto é porque a maioria de nós só come um único tipo de banana, uma que foi criada pelo próprio homem.




Um cacho de bananas no topo, com as flores no final, que por sua vez tambem são comestíveis.



As bananas que comemos são na realidade híbridas, ao longo dos anos o homem tem estado a misturar espécie atrás de espécie, com a intenção de melhorar o fruto. Como resultado ficaram mais longas, mais saborosas e precisam de menos cuidados. Apesar de parecer que tem sementes muito pequenas no interior, estas são só vestígios do que já foram e agora de nada servem. A falta de sementes significa que esta espécie de banana, não pode reproduzir-se sexualmente, mas sim fazer cópias de ela própria continuamente, não mais do que clones. Apesar de haver vantagens, como uma produção mais rápida também significa que é muito vulnerável a vírus e bactérias, o que pode originar uma extinção em massa rapidamente. Isto já aconteceu antes em meados do século 20, a banana de escolha era Gros Michel, mas um fungo que destruía as raízes, conhecido por doença do panamá, praticamente arrasou com a espécie inteira. Cavendish é a que podemos encontrar no supermercado e aquela que veio substituir a Gros Michel, por ser mais resistente e maior facilidade de transporte. Mas mesmo esta tem as mesmas vulnerabilidades, e hoje cientistas trabalham para arranjar uma forma de as tornar ainda mais resistentes.



A banana tem um óptimo valor nutricional, é energética e fácil de consumir (menos de duas horas) contém varias vitaminas e nutrientes, tanto que uma banana só em si pode constituir ou complementar uma refeição rápida e agradável e ajuda também na manutenção das defesas imunológicas do organismos. Graça a sua riqueza em glícidos, vitaminas do grupo B, potássio e magnésio, as bananas são um elemento importante para um bom desempenho muscular. Não é raro ver tenistas a comer uma banana entre set’s. Curiosamente este facto também se encontra na própria casca de banana, não só é comestível como possui propriedades terapêuticas como ajudar em dores de cabeça ou picadas de mosquitos.


A influência da banana na culinária transcende em muito aquela de uma simples fruta de mesa. Em qualquer parte do mundo podemos ver pratos principais ou até bebidas com a banana como igrediente principal.



O famoso banana split





Uma informação curiosa que não é do conhecimento popular é que todas as bananas são radioactivas. Na realidade um dos alimentos mais radioactivos que costumamos consumir, mas felizmente é inofensivo. A radiação provém de alguns isótopos de potássio que estão presentes na banana, o mesmo potássio que o nosso corpo precisa para funcionar. Seria necessário comer 600 bananas para igualarmos a radiação de um raio-X ao tórax.



A banana é um fruto tão conhecido e tão adorado que consegue sempre aparecer em qualquer tipo de mídia, seja livros, músicas, filmes e inclusive alguns mitos. E até já chegou a ser considerada O pior Pesadelo dos Ateus, como podemos ver no vídeo em baixo.





É claro que o argumento deste carismático senhor cai por terra quando pensamos em frutos como ananás ou cocôs, de acesso não tão simplista como a perfeita banana. E como já foi abordado em cima, a banana que conhecemos hoje foi totalmente criada pela mão do homem e não pela natureza, e a interpretação disto deixo ao críterio de cada um.



A banana é um fruto interessante, que merece algum reconhecimento da nossa parte, não só porque a sua historia esta directamente ligado com os nossos antepassados portugueses mas também como um alimento que deve estar sempre presente no nosso dia-a-dia. A própria Cavendish não é totalmente imune a doença do panamá, e existe a especulação que possa desaparecer totalmente nos próximos 20 anos, por isso comam-na enquanto podem.  

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A TDT em Portugal - Parte 2

Há algum tempo, escrevi aqui pelo blog sobre a forma como foi conduzido o processo de introdução da Televisão Digital Terrestre em Portugal. O artigo centrava-se sobre a tese de doutoramento do investigador Sérgio Denicoli e sobre os métodos utilizados pela PT para proporcionar um mau serviço aos consumidores, nas barbas do corrompido regulador, a ANACOM.

Ora nem a propósito, e cerca de um ano depois do início das transmissões terrestres, a DECO divulga um estudo esclarecedor: cerca de 62% dos utilizadores da TDT têm problemas de recepção de sinal e ainda mais grave, 13% dos lares não conseguem seguir a emissão de televisão,

O link atrás segue para uma notícia do jornal Público que assim começa: "O panorama é mais grave do que se previa e do que o regulador, a Anacom, sempre admitiu. " Esta frase é reveladora de uma inércia da regulação por parte da ANACOM, que permitiu à PT fazer o que bem lhe apetecesse em relação a este processo.

Este é o estado do país neste momento: A grande empresa enriquece, o regulador fecha os olhos, os consumidores sofrem!

O grande erro é pensar que são precisas troikas e 4 mil milhões de euros até ao fim do mês. Não são. O que é preciso é seriedade e justiça!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A queda de um mito



Poucas serão as pessoas que não conhecerão ou terão ouvido falar de Lance Armstrong: o ciclista que se tornou mundialmente famoso pelas suas sete vitórias consecutivas no Tour de France, após ter superado um cancro nos testículos.



Lance tornou-se uma lenda no ciclismo de estrada internacional, a sua história e as suas conquistas tornaram-no um ícone do desporto americano e mundial. Para além disto, num hiato da sua carreira criou uma fundação de apoio na luta contra o cancro.



Porém toda a mística envolvendo Armstrong caiu por terra, no momento em que o próprio assumiu o consumo e distribuição de substâncias dopantes. A entrevista em que fez o mea culpa foi concedida a Oprah Winfrey, cinco meses depois de a USADA, agência anti-doping americana, lhe remover todos os títulos conquistados a partir de agosto de 1998, na sequência da elaboração de um documento que relata a forma como Armstrong se dopou durante toda a sua carreira velocipédica.




O relatório produzido pela USADA era bastante detalhado no que diz respeito à forma como Armstrong e os seus colegas teriam esquemas de dopagem bem definidos entre e durante as competições. Armstrong era muito mais do que um líder na sua equipa, era um patrão, uma vez que ele próprio era dono de parte da equipa, ou seja, todas as decisões mais relevantes na gestão da equipa profissional eram tomadas por Lance. Segundo o relatório incriminador, Armstrong terá ameaçado muitos companheiros de equipa a doparem-se para permanecer na equipa, enquanto que outros terão sido fortemente pressionados a fazê-lo. Para além disso, a equipa contou com a ajuda expressa de uma vasta equipa de médicos especialistas em métodos de doping, que auxiliavam os ciclistas não só no processo de dopagem, mas também em manobras de evasão para passarem testes de controlo anti-doping, e ainda no tráfico de substãncias proibidas.




Ao longo da sua carreira, Armstrong foi recorrentemente indiciado de práticas de doping, porém nunca chegou a ser formalmente acusado e a verdade é que nunca terá falhado um controlo anti-doping, mas isso não se deve ao facto de estar limpo de substâncias dopantes. Na realidade, Lance e a sua equipa tinham formas de evitar ser apanhados. Os métodos, referidos no relatório da USADA, foram caracterizados por Armstrong (na entrevista a Oprah) como artesanais e pouco sofisticados. Para evitar os controlos, utilizavam sobretudo tácticas conhecidas de todo o pelotão: a primeira era simplesmente evitar os controladores durante as fases de controlo, a segunda era usar substâncias dificilmente detectáveis e a terceira era aproveitar as limitações e legislação dos métodos de teste.


Para auxiliar nestes processos, as equipas de Armstrong terão contado com a ajuda preciosa de vários médicos especialistas em programas de dopagem com quem Armstrong terá colaborado em relação estreita, não só para o melhoramento da sua performance, como da dos seus colegas. Um dos médicos mais famosos a colaborar com Armstrong nas suas equipas foi Michele Ferrari, uma associação que muitos terão cosiderado só por si suspeita, considerando os envolvimentos de Ferrari em sistemas de treino baseados em substâncias dopantes. Mas os médicos não terão sido os únicos a pactuar com Armstrong, uma vez que controladores da UCI estariam subornados para informarem antecipadamente os membros da equipa dos momentos dos controlos.


Na entrevista com Oprah, o ex-ciclista tenta desculpar-se por todos os erros que cometeu, afirmando que o motivo pelo qual se dopara era a sua vontade de vencer a qualquer custo, mentalidade que terá mantido durante o tempo em que lutou contra a sua doença. Os custos para Armstrong estão a começar a definir-se com clareza: já abandonou a sua fundação de luta contra o cancro e já recebeu notícias que os seus patrocinadores rescindiram os contratos que os ligavam a ele.




Por outro lado, os custos para a modalidade em si estão por definir, pois pese embora existirem escândalos de doping no ciclismo, poucos serão aqueles que conseguirão nomear pelo menos um caso conhecido. Isto prende-se com a fama que Armstrong obteve: durante anos Armstrong e o ciclismo eram quase sinónimos. Já várias figuras vieram a público defender a suspensão do ciclismo enquanto modalidade olímpica.



Conseguirá o ciclismo sobreviver a este duro golpe na sua imagem? Estarão os patrocinadores dispostos a continuar a alimentar uma modalidade em que as suas maiores estrelas se revelam fraudes gigantescas? O ano de 2013 terá que ser uma grande lufada de ar fresco nesse sentido e todos deverão ser chamados às suas responsablidades, tanto os ciclistas como as federações e os controladores.