segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A queda de um mito



Poucas serão as pessoas que não conhecerão ou terão ouvido falar de Lance Armstrong: o ciclista que se tornou mundialmente famoso pelas suas sete vitórias consecutivas no Tour de France, após ter superado um cancro nos testículos.



Lance tornou-se uma lenda no ciclismo de estrada internacional, a sua história e as suas conquistas tornaram-no um ícone do desporto americano e mundial. Para além disto, num hiato da sua carreira criou uma fundação de apoio na luta contra o cancro.



Porém toda a mística envolvendo Armstrong caiu por terra, no momento em que o próprio assumiu o consumo e distribuição de substâncias dopantes. A entrevista em que fez o mea culpa foi concedida a Oprah Winfrey, cinco meses depois de a USADA, agência anti-doping americana, lhe remover todos os títulos conquistados a partir de agosto de 1998, na sequência da elaboração de um documento que relata a forma como Armstrong se dopou durante toda a sua carreira velocipédica.




O relatório produzido pela USADA era bastante detalhado no que diz respeito à forma como Armstrong e os seus colegas teriam esquemas de dopagem bem definidos entre e durante as competições. Armstrong era muito mais do que um líder na sua equipa, era um patrão, uma vez que ele próprio era dono de parte da equipa, ou seja, todas as decisões mais relevantes na gestão da equipa profissional eram tomadas por Lance. Segundo o relatório incriminador, Armstrong terá ameaçado muitos companheiros de equipa a doparem-se para permanecer na equipa, enquanto que outros terão sido fortemente pressionados a fazê-lo. Para além disso, a equipa contou com a ajuda expressa de uma vasta equipa de médicos especialistas em métodos de doping, que auxiliavam os ciclistas não só no processo de dopagem, mas também em manobras de evasão para passarem testes de controlo anti-doping, e ainda no tráfico de substãncias proibidas.




Ao longo da sua carreira, Armstrong foi recorrentemente indiciado de práticas de doping, porém nunca chegou a ser formalmente acusado e a verdade é que nunca terá falhado um controlo anti-doping, mas isso não se deve ao facto de estar limpo de substâncias dopantes. Na realidade, Lance e a sua equipa tinham formas de evitar ser apanhados. Os métodos, referidos no relatório da USADA, foram caracterizados por Armstrong (na entrevista a Oprah) como artesanais e pouco sofisticados. Para evitar os controlos, utilizavam sobretudo tácticas conhecidas de todo o pelotão: a primeira era simplesmente evitar os controladores durante as fases de controlo, a segunda era usar substâncias dificilmente detectáveis e a terceira era aproveitar as limitações e legislação dos métodos de teste.


Para auxiliar nestes processos, as equipas de Armstrong terão contado com a ajuda preciosa de vários médicos especialistas em programas de dopagem com quem Armstrong terá colaborado em relação estreita, não só para o melhoramento da sua performance, como da dos seus colegas. Um dos médicos mais famosos a colaborar com Armstrong nas suas equipas foi Michele Ferrari, uma associação que muitos terão cosiderado só por si suspeita, considerando os envolvimentos de Ferrari em sistemas de treino baseados em substâncias dopantes. Mas os médicos não terão sido os únicos a pactuar com Armstrong, uma vez que controladores da UCI estariam subornados para informarem antecipadamente os membros da equipa dos momentos dos controlos.


Na entrevista com Oprah, o ex-ciclista tenta desculpar-se por todos os erros que cometeu, afirmando que o motivo pelo qual se dopara era a sua vontade de vencer a qualquer custo, mentalidade que terá mantido durante o tempo em que lutou contra a sua doença. Os custos para Armstrong estão a começar a definir-se com clareza: já abandonou a sua fundação de luta contra o cancro e já recebeu notícias que os seus patrocinadores rescindiram os contratos que os ligavam a ele.




Por outro lado, os custos para a modalidade em si estão por definir, pois pese embora existirem escândalos de doping no ciclismo, poucos serão aqueles que conseguirão nomear pelo menos um caso conhecido. Isto prende-se com a fama que Armstrong obteve: durante anos Armstrong e o ciclismo eram quase sinónimos. Já várias figuras vieram a público defender a suspensão do ciclismo enquanto modalidade olímpica.



Conseguirá o ciclismo sobreviver a este duro golpe na sua imagem? Estarão os patrocinadores dispostos a continuar a alimentar uma modalidade em que as suas maiores estrelas se revelam fraudes gigantescas? O ano de 2013 terá que ser uma grande lufada de ar fresco nesse sentido e todos deverão ser chamados às suas responsablidades, tanto os ciclistas como as federações e os controladores.










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